Thursday 17 January 2008

Pintores de letras ou letristas?



A denominação pintor de letras é atribuída aos indivíduos que fazem pintura de letras e ícones em murais, painéis, placas, cartazes e até carrocerias de caminhão, não importando o tipo de suporte material a ser utilizado, para o seu sustento e de sua família.

"Ao longo da presente pesquisa, foram encontradas algumas referências que erradamente denominam esses indivíduos como letristas, termo este que caracterizava um profissional que trabalhava em agências de publicidade em época anterior às impressões computadorizadas. Esse profissional normalmente tinha uma formação técnica mais elevada, ao contrário do pintor de letras que vem das categorias menos favorecidas, com a sua experiência empírica."

"Signos criados de forma artesanal e intuitiva compõem uma comunicação visual regional, popular – são desenhos de letras que conferem uma vitalidade quase infantil a mensagens expostas em muros, placas e tapumes, em localidades onde estas inscrições urbanas ainda não sucumbiram por completo às inovações tecnológicas."

"Neste expressivo segmento da cultura visual do povo brasileiro constata-se a habilidade para o desenho e representação de formas como fator determinante para o ganha-pão dos pintores de letras. Mas observa-se também uma progressiva desqualificação profissional face às novas tecnologias computacionais."

"Linhas ascendentes, descendentes e transversais vão gerando um autêntico «design popular» dessa escrita vernacular que é articulada com a restrita bagagem cultural de indivíduos que desconhecem os postulados das técnicas acadêmicas. Conforme nos ensina Lelia Coelho Frota (2005), trata-se de um senso estético baseado no saber popular, advindo das experiências visuais do quotidiano."

"A observação da multiplicidade comunicacional gerou, através de diferentesmodos de apropriação, resultados visualmente híbridos das formas pintadas, identificando releituras dos modelos apropriados de uma comunicação oficial consagrada, provando de modo veemente, conforme Néstor García Canclini (2003), as práticas de um inegável processo de reconversão cultural."

"A crescente sensação de perda de identidade nas comunicações dos media oficiais como efeito de uma estética globalizante não é compartilhada pela linguagem da tipografia popular, que representada pelo desenho dos seus sinceros traços e no preenchimento de suas cores puras, oferece o total desnudamento de qualquer tecnicismo conceitual. São sinais e signos que se debruçam e entrelaçam sobre um mesmo sentido não-contemplativo, único, solidário e, sobretudo, utilitário, sem conflitos, entrelinhas ou segundas intenções, como nos lembra Roland Barthes (2000). É a força de uma arte não-contemplativa que busca um utilitarismo explícito na veiculação das suas mensagens."

Marcus Vinicius Dohmann Brandão
Doutorado em Artes Visuais pelo PPGAV/EBA/UFRJ, Chefe do Departamento de Comunicação Visual da EBA/UFRJ e Coordenador do LabGraf/EBA/UFR.
Baseado numa investigação feita em Itaipava, perto do Rio de Janeiro.







0713 conv. Jefferson Cortinove

1 comment:

Anonymous said...

Por favor veja minha page: http://www.facebook.com/pages/Dhyow-Pintor-de-Letras/362555850507354?ref=hl Obrigado. Netão