Friday 22 August 2008

Uma viagem a cuba em três posts - Parte II


Foto: Praça da Revolução em Havana, by Daguito Rodrigues

A chegada...

O vôo mais barato que eu e minha namorada conseguimos para Cuba foi com a panamenha Copa Airlines, com escala na cidade do Panamá. Foram pouco mais de seis horas de São Paulo à cidade que partiu a América, umas duas de espera no aeroporto de lá e mais duas horas e quinze até Cuba.

Chegamos por volta das 23hs do dia 7 de julho de 2008 e logo no finger – o túnel que liga o avião ao terminal – sentimos pela primeira vez o calor infernal que nos acompanhou durante toda a viagem. E nossa primeira visão do pais, claro, foi o terminal do aeroporto. Parecia um daqueles prédios anos 60 que cidades como Santos e Rio de Janeiro ainda guardam, com muito amarelo nos detalhes da arquitetura. No teto, bandeiras de quase todos os países do mundo. Nas cadeiras, ninguém. O lugar tinha poucas luzes acesas, o ar condicionado estava desligado e provavelmente mais nenhum vôo chegaria ou partiria dali.

Eu não sabia direito o que esperar da minha passagem pela imigração. Cuba é um país militarizado, cujo governo chegou ao poder na luta armada e é uma ditadura. Mas foi relativamente tranqüilo. Tivemos que entrar separados, cada um numa cabine velha de madeira com um vidro que nos separava do fiscal. Com meu passaporte e visto em mãos, o funcionário balançava a cabeça negativamente. Com certeza porque eu tinha ali no passaporte um visto para os EUA.

Com o carimbo de entrada no visto cubano, pegamos nossas bagagens, passamos tranqüilamente pela alfândega e trocamos alguns euros por pesos conversíveis. A moeda oficial de cuba é o Peso, mas os turistas só podem usar o "Peso Convertible", que é praticamente equivalente ao dólar. Apesar disso, não vale a pena levar a moeda ianque, porque a taxa de conversão ali é bizarra, então o dinheiro europeu é muito mais vantajoso.

Com dinheiro no bolso e as férias pela frente, encontramos um taxista que se ofereceu para nos levar ao hotel. E lá fomos nós em direção a um enorme carro rabo de peixe anos cinqüenta que... Não era o nosso táxi. Eu achava que Cuba só tinha desses carros antigos, mas o nosso era algum carro europeu moderno, com ar condicionado e poucos anos de uso. Abrimos a janela – vidro eletrônico - para sentir o calor das 23h30 enquanto o velho taxista ligava o rádio. Michael Jackson seguido de Madonna. Ei, na minha cabeça Cuba é um lugar isolado que odeia os EUA. Não, nada disso. Ali eu começava a conhecer a Cuba verdadeira.

Foram cerca de 30 minutos, parte deles em estrada, até o hotel. Em Havana, o carro cruzava tranqüilamente ruas escuras, ladeadas por prédios anos 50 cheios de colunas nas fachadas e completamente comidos pelo tempo. Rachados, descascados, sujos, destruídos.

Logo entramos em Havana Vieja, a região mais antiga da cidade, que lembra um pouco o Pelourinho, mas totalmente plana. E paramos numa rua escura. "Não posso ir mais longe, a partir daqui é só pedestre. O hotel é ali na frente".

Desci as malas do carro e perguntei o preço da corrida. Lá no aeroporto, na casa de câmbio, tinham me dito que daria uns 20 cucs (pesos cubanos conversíveis). Mas ali, com as malas na rua e de frente para o taxista, aprendi minha primeira lição cubana: sempre fechar o preço antes de entrar no taxi e sempre chorar um desconto. "30 cucs", disse o dublê de Compay Segundo. Chorei, pedi para baixar, mas depois da corrida feita, amigão, até aquele simpático taxista pode cobrar o que quiser.

Deixamos as malas no quarto 109, Jeremias, do Hotel Raquel e descemos para tomar nosso primeiro mojito no bar do lobby. Pedimos dois, claro. E ali, com o calor de Cuba e o frescor único daquela bebida, o garçom me mostrava as poucas marcas de cerveja do país – praticamente duas, Cristal e Bucanero - enquanto a TV passava Matrix Revolutions.

Isolada? Antiamericana? Abandonada pelo tempo? Não, a ilha não é nada daquilo que falam. A ilha é única. Algo que eu iria aprender – e adorar – nos 15 dias que tinha pela frente.

"Até a vitória, sempre".




Daguito Rodrigues é formado em jornalismo e cinema e atualmente trabalha como redator publicitário na agência Salles Chemistri, em São Paulo no Brasil.






Continua...





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