Excepcionalmente nesta segunda não irei postar a crítica política por estar participando do Projeto Blogagem Inédita, fica o meu agradecimento para Julius Wiedemann que comentou sua ótica sobre os desafios da criação para os multimídias no Brasil no cenário da TV digital.
"Como estou na posição de poder ver toda a discussão de fora, vou fazer o uso dela sem ser muito técnico, mas sim dando a minha opinião como alguém que já viveu no Japão (que está a meu ver cerca de cinco anos na frente do mundo ocidental em termos de adoção de tecnologia), e vive há quase sete anos na Europa, agora na Inglaterra, onde a TV digital também é tema de discussões e debates."
"Já faz uns dois anos que estive em uma conferência em Londres sobre criatividade na TV, e logo na primeira palestra, o tema abordado foi a transposição da tecnologia e a migração dos telespectadores de um modo para o outro. As conseqüências podem ser muitas, mas como eu sou um advocator de tecnologia, eu sempre acredito que quem enxergar as oportunidades primeiro, é que vai se dar melhor. E quem começar a aprender primeiro, vai estar numa posição melhor. Pode-se combater a inevitabilidade da mudança, mas a prática mostra que as tecnologias podem até tardar, mas elas vem."
"Como a conferência era basicamente pra criativos, o primeiro case apresentado foi para uma marca de Vodka, onde o comercial se dividia em três etapas. O usuário era sempre motivado a ir à próxima etapa, mas isso ficava critério dele. Como a campanha foi criada para TV digital, o telespectador tinha o controle, e podia decidir se ele gostaria de ir adiante ou não."
"Controle. Esse é sempre o tema que pouco se nomeia, mas que está no fundamento de qualquer transposição de sistema. Se olharmos a historia de muitas das invenções e convenções que hoje utilizamos, vamos ver que esse sempre existiu o pânico pela perda de controle. É natural, principalmente humano. Mas vamos ver também que daí surgiram grandes oportunidades. Basta ver a história da rádio FM, TVs a cabo, e mais recentemente File Sharing, etc. A história se repete em muitos aspectos. E o medo da perda de controle é a meu ver legítimo. No entanto, o histórico de oportunidades que emergiram é surpreendente. Quem tiver a melhor visão vai ter sempre vantagem."
"Entrando agora especificamente sobre a TV digital e sua implementação, acho que vai ser inevitável a transposição, e ela vai oferecer oportunidades pra todos os lados. Para os produtores de conteúdo, isso vai significar ter mais flexibilidade na hora de oferecer o que as pessoas esperam. Oferecer informação instantânea e mais flexível. O status quo é sempre confortável, mas pode-se olhar pra frente e abrir novas portas."
"Sabemos que a questão da interatividade sempre demora um tempo pra chegar, e podem estar nela as grandes oportunidades de mudança. No momento, o foco ainda é a qualidade de imagem e som. O que parece ser pouco, mas é como banda larga ou celular, uma vez que você tem você não quer mais largar. Por isso, esse fator não deve ser subestimado."
"TV por celular também pode ser um grande lance, apesar de eu achar que isso realmente vai funcionar no dia que tivermos canais dedicados pra mobile, ou no dia que esses puderem fazer projeção de suas imagens em telas ou paredes (tecnologia que já está sendo testada e já existem os primeiros modelos em produção). Ver TV no computador eu não acho que ainda vá ter grandes efeitos. O que eu acho que toda essa mudança vai trazer na verdade é uma valorização da qualidade do conteúdo. Quanto melhor ele for, mais público ele atrairá, e os modelos de subsídio para o telespectador (leia-se anúncio) vão acompanhar. A campanha como a que eu citei é um exemplo, mas existem outros modelos que podem vingar como é o caso do Joost."
"O ponto central da mudança que eu vejo na TV (ou pra ser mais genérico, conteúdo em vídeo) é que vamos cada vez mais exigir as coisas on demand. É simplesmente inevitável. E a tecnologia está cada vez mais perto de prover isso em sua totalidade. Empresas grandes são raramente early adopters, elas têm que esperar o “caldo engrossar” pra sentir a necessidade de entrar numa “onda tecnológica” diferente. Essas decisões custam milhões (quando não bilhões), além de envolverem muitas vezes mudanças estruturais. Com empresas funcionando cada vez mais com retornos a curto prazo, pouca gente quer investir hoje pra ver se algo vai vingar em 15 anos. No caso da TV digital, é só questão de quando mesmo. A tecnologia está aí porque ela oferece várias vantagens."
"Agências interativas vão inclusive poder se redirecionar e se “intitular” mais como de publicidade, coisas que elas já fazem, claro, mas sem foco em impresso, do que como agências interativas apenas. Recentemente conversando com a vice-presidente da agência americana RG/A em Londres, ela me contou como a empresa ao longo de seus 30 (sério, 30 anos, é tempo pra uma mudança estratégica a cada 5 anos nesses tempos que vivemos) anos de existência foi de uma empresa de efeitos especiais (Alien é deles por exemplo) e hoje se vende como uma agencia de propaganda. E não para de crescer. No meio disso tudo foram claro uma agência interativa (NikeiD é deles) durante um bom tempo, mas como as mídias e as disciplinas dentro de comunicação e desenvolvimento de produto estão cada vez mais interligadas, eles estão sempre se reinventando."
"O lance é esse. Reinventar!"
Julius Wiedemann, brasileiro, editor da Ed. Taschen (Alemanha), trabalhando atualmente em Cambridge, na Inglaterra.
0713
Monday, 17 March 2008
Blogagem Inédita: Entrevista - A Criação no cenário da TV digital.
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publicidade,
tv digital
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