Wednesday 22 October 2008

#1 Comutação Verbal – Final: "Nossos dados estão bem guardados digitalmente?"




(por Sérgio Amadeu)


"TEIAS DE DADOS EMBARAÇAM A NOSSA PERCEPÇÃO"


Por onde começar? A guarda dos dados na rede das redes podem ser analisados sob diversos aspectos.

Primeiro, o do ponto de vista do controle. A partir do momento que temos as diversas possibilidades das arquiteturas descentralizadoras e distribuídas do IP convivendo com uma estrutura altamente hierarquizada do DNS, vivemos uma situação de permanente disputa entre a opacidade da comunidade do controle e a navegação trasnparente da maioria dos internautas. Alguns dados nascem da nossa navegação e são crescentemente valiosos para o capitalismo cognitivo, para a análise e definição de padrões de comportamento. Outros são dados que geramos para os mecanismos de busca todas as vezes que queremos encontrar algo a partir deles. Sem dúvida, é preciso garantir o anonimato de todas as maneiras na comunicação em rede, do contrário teremos nossa privacidade e nossa liberdade de observação e navegação completamente tutelada e acompanhada pelos bots vigias, pelos provedores de acesso, conexão e gatekeepers da busca.

Segundo, do ponto de vista de nossos arquivos armazenados digitalmente. Uma parte dos nossos dados foram guardados em formatos proprietários, mantidos por uma única empresa. O que acontecerá daqui a dez anos quando quisermos abrir um velho arquivo? Estaremos nas mãos de empresas de software proprietário que descontinuam seus produtos e alteram formatos exatamente para aprisionar seus clientes e os obrigarem a adquirir novas versões do software. Qual a saída? Sem dúvida alguma, utilizar padrões abertos, desenvolvido colaborativamente, não-proprietários, não-patenteados, que possam garantir que seus formatos poderão ser utilizados por quaisquer aplicativos independente da empresa ou coletivo que o desenvolveu. Por isso, considero necessário esclarecer a importância estratégica do ODF (Open Document Format).

Terceiro, um livro dificilmente não pode ser encontrado mesmo estando esgotado. Uma biblioteca inteira também não pode ser destruída a não ser em caso de um grande incidente. Mas vários sites desaparecem de um dia para outro e portais são retirados dos servidores sem o menor aviso prévio. O projeto Archive tenta manter parte da memória que estamos perdendo no cenário digital. Mas ele é insuficiente. Quando o Poder Público muda de gestão, em geral, altera-se os sites e ao invés de mantê-los em arquivos (inclusive design) para consulta em uma área específica, simplesmente o novo gestor desaparece com muitos dados. Os portais públicos ainda não são considerados documentos públicos, somente os dados que estão impressos em papel é que geram processos criminais ao serem destruídos. Interessante como é complexa a manutenção da memória no mundo digital.

Quarto, a metalinguagem digital permite que uma série de dados sejam reunidos e multiplicados sem desgaste de suas bases de dados originais. Isto deveria ser explorado, permitindo novas experiências e cruzamentos que podem ser realizados pela exploração de modelos de computação distribuída, tal como o BOINC. Boa parte dos dados devem ser disponibilizados para as práticas recombinantes, que sem dúvida é a melhor forma de garantir utilidade criativa a sua existência nesse mundo do Petabyte e do Exabyte. Mas, essas questões e outras que passam pela hipótese do armazenamento holográfico de dados ficam para posts futuros.



Sérgio Amadeu da Silveira
Professor do Mestrado da Faculdade Cásper Líbero
Ativista do Software Livre














Deixo aqui os meus agradecimentos para os dois nobres convidados que cordialmente colaboraram com a blogosfera brasileira compartilhando suas observações aqui.

Não percam as próximas postagens, até lá.







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